quarta-feira, 25 de maio de 2011

Barcos de Caixeta feitos no Indaiá em Bertioga - SP.

Toda vez que vou ao atelier do Johnny no Canto do Indaiá, ele me surpreende, desta vez deparei com ele fazendo um daqueles barquinhos de madeira coloridos encontrados em algumas lojas de artesanato. Eu já tinha visto os barquinhos no site dele, mas pensava que ele apenas os revendesse, pois pra mim esses barcos vinham da Costa Verde na região de Paraty.
Aproveitando a oportunidade rara, perguntei ao Johnny quando ele havia começado a produzir esse tipo de artesanato. Ele me disse que isso era uma herança de sua infância, pois quando garoto, morou na cidade vizinha do Guarujá, e lá conviveu com comunidades da etnia Guarani e Caiçaras que habitavam as margens do estuário de santos e foi com um desses Caiçaras (Seu Maneco Pinguita como era chamado)que Johnny conheceu a arte de
confeccionar miniaturas de canoas e barcos de pesca. E foi no final dos anos 90 que Johnny resolveu transformar sua antiga brincadeira de criança em trabalho. O maior desafio segundo Johnny era conseguir a madeira, pois além de não lembrar como era a tal árvore, ele enfrentava a legislação ambiental, mas Johnny novamente recorreu ao conhecimento dos Caiçaras para saber identificar um pé de caixeta. Como Johnny é contra o corte de árvores, ele não derrubava as arvores, ele se limitava a fazer pequenos barcos e canoas, pois ele podava apenas os galhos, deixando a árvore seguir sua vida. Tempos depois ele encontrou uma forma lícita de conseguir caixeta, ele ficava de olho nos terrenos que estavam
sendo desmatado para a construção, localizando o terreno ele verificava junto ao dono do imóvel se ele tinha a licença ambiental para desmatar, se positivo ele negociava a caixeta que havia no terreno. Outra forma que Johnny encontrou para conseguir a madeira de forma lícita, era junto as linhas de transmissão de energia elétrica, ele aguardava os funcionários da concessionária efetuarem as podas, pra ele poder retirar os galhos que interessava. Uma particularidade dessa madeira é que se a árvore for cortada 50 centímetros acima da raíz, em um ou dois anos ela esta novamente pronta pro corte explica Johnny. Uma outra forma de manejar a caixeta é fazer valas e plantar varas da madeira dentro dessas valas que são irrigadas até elas brotarem. Voltando aos barcos,  no início Johnny confeccionava apenas pequenos barcos e canoas, depois foram as baleeiras, traineiras, saveiros(escunas), que segundo Johnny, já viajaram o mundo, pois ele já vendeu seus barcos e canoas para turistas de vários países do mundo. A última peça vendida por Johnny para fora do país foi uma canoa de um metro de comprimento que pode se vista na foto ao lado.

Esta canoa foi adquirida por um dos diretores da empresa Eletrolux em Nova York, a madeira que foi feita a canoa, saiu do desmatamento do trevo da rodovia Rio-Santos com a Mogi-Bertioga. Todo o trabalho de Johnny é artesanal e individual ou seja ele faz tudo sozinho e sem maquinas especiais; algumas de suas ferramentas foram confeccionadas por ele. como é o caso do alegre, uma espécie de lâmina em forma de meia lua que é usada para escavar as canoas, segundo Johnny; essa ferramenta é difícil de se encontrar pra compra e quando se encontra é muito caro; o jeito é fazer uma digo, algumas, pois ele tem uma para cada tamanho de canoa. Johnny explica que esse tipo de peça ele não tem em estoque, pois como foi dito anteriormente, a aquisição da madeira não é constante e sim ocasional, pois ele pode conseguir um metro cúbico de madeira essa semana, e voltar a ter madeira daqui a três ou quatro meses. Peças de tamanho maior, é mais difícil pois não é todo dia que se encontra cortado de forma legal um pé de caixeta com diâmetro de 30 centímetros. Ele pode dar a sorte de encontrar algum terreno com alvará de desmatamento que contenha uma árvore com esse diâmetro que virá ao chão ou pode ser que encontre somente daqui a um ano. O que torna suas peças bem concorridas, só pra se ter uma idéia, a lista de espera pra comprar uma canoa igual a mostrada na foto acima é longa, tem cerca de oitenta pessoas. Vocês devem estar perguntando; por que não compram de outra pessoa??? A resposta é simples; pouca gente tem a mesma mentalidade e responsabilidade ambiental e ecológica que o Johnny tem; além da responsabilidade social, pois como foi dito acima o Johnny desenvolve sua atividade de forma individual, ou seja não utiliza mão de obra, principalmente infantil como ocorre pelo Brasil afora, crianças que deveriam estar na escola trabalham em casas de farinha e etc., por ser um produto quase que ecologicamente correto, seu preço é um pouco maior e sua compra bem concorrida, pois ter uma fila de espera pra comprar uma canoa não é para qualquer um... As fotos foram cedidas por Johnny de seu arquivo pessoal. E parabéns ao Johnny por levar o nome de sua cidade e bairro pelo mundo afora, de forma positiva é claro...

Por hoje é só, até o próximo... Um Abraço a todos!

Jackie